CAOS NA SAÚDE: Mesmo com quase R$ 600 milhões de orçamento para a saúde, Cazellato entregará para o próximo prefeito a saúde de Paulínia na UTI

A poucos meses de deixar o comando da Prefeitura de Paulínia, o prefeito Du Cazellato deixará para o próximo prefeito a saúde da cidade na UTI. Mesmo o município tendo este ano um orçamento de R$ 2,5 bilhões, sendo quase R$ 600 milhões só para a pasta da saúde, a gestão Du Cazellato que agora tem Danilo Barros como candidato, deixará problemas muito comuns em cidades pobres.
Para se ter uma ideia, segundo o relatório do SUS (Sistema Único de Saúde), de agosto deste ano com o ranking dos municípios que compõe a Região Metropolitana de Campinas com melhor avaliação de atendimento e serviços oferecidos na área de Saúde; Paulínia não aparece nem entre as 10 primeiras. A cidade de Pedreira, que tem um orçamento muito inferior ao de Paulínia, ocupa a 1ª colocação no ranking com nota 9,34 e até mesmo a vizinha Cosmópolis, em 6º lugar com nota de 7,91, ficou à frente de Paulínia.
Ou seja, o novo prefeito eleito no próximo domingo, 6 de outubro, terá que tentar uma transição amigável com a gestão Cazellato para tentar tirar a saúde da cidade do fundo do poço. 
Até o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP) apontou o caos na saúde pública de Paulínia, como um dos motivos para reprovar as contas da gestão Du Cazellato; com vários apontamentos que reprovaram os exercícios financeiros de 2019, 20 e 21 (2022 e 23 ainda serão julgados).
Elencamos uma série de problemas que ocorreram na gestão Cazellato e culminaram para o caos que vive a saúde pública de Paulínia, confira.

➡️Demora por consultas e exames
O TCESP identificou diversas deficiências na gestão Cazellato na área da saúde que prejudicam a vida da população. Conforme os pareceres do Tribunal, a população da cidade sofre com longas e demoradas filas por consultas com especialistas e a realização de exames e cirurgias.
Nossa reportagem apurou que não há neurologista que atenda adultos na rede. Também que em algumas especialidades, como gastro, psiquiatria e otorrino, a demora para consultas passa de 8 meses de espera. Exames de ultrassonografia e tomografia, por exemplo, a demora pode passar de 1 ano.  
➡️ Faltam medicamentos
No caso da falta de medicamentos, reclamações vêm sendo postadas diariamente nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, de munícipes que alegam não terem conseguido pegar gratuitamente os remédios de que precisam nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde. 
Na maioria, quase sempre pelo mesmo motivo, são informados de que os medicamentos estão em falta. Segundo a população, faltam de remédios simples, como vitaminas e para controle de temperatura, como Dipirona, por exemplo; aos mais complexos, como para o controle de diabetes e esquizofrenia.
➡️ HMP entrou em colapso

O Pronto Atendimento do Hospital Municipal de Paulínia (HMP) entrou em colapso. Com muita demora no atendimento, nossa reportagem já chegou a ser informada de que havia pacientes esperando até 7 horas para serem atendidos. 
Além disso, nossa reportagem recebeu várias reclamações também de negligência no atendimento. Inclusive, mostramos quando uma mãe que teve o atendimento negado à filha, revoltada, arremessou uma cadeira contra a recepção do HMP. 
Também publicamos matérias sobre pessoas que foram vítimas de vários tipos de negligência médica e no atendimento no HMP. Além de pessoas aguardando em macas nos corredores. 

Muita gente em Paulínia, principalmente aqueles que defendem a gestão do prefeito Du Cazellato, às vezes porque é cargo de confiança ou possui contrato com o município, quer justificar os problemas ocorridos no HMP dizendo que o grande problema é que o Hospital atende muitas pessoas de fora de Paulínia. 
Acontece que isso não é verdade. Isso porque, 80% dos atendimentos no HMP são de Paulinenses! Como mostra a resposta da Prefeitura de Paulínia ao requerimento do vereador Douglas Guarita n°1362/2023. 20% foram atendimentos a moradores de Campinas, Cosmópolis, Hortolândia e Sumaré.

➡️PA que só funciona em horário comercial

No final do ano passado, a gestão Du Cazellato inaugurou o Pronto Atendimento (PA) no bairro São José, sob a alegação que a nova unidade de saúde (na verdade, um puxadinho feito no prédio da UBS São José) ajudaria a desafogar o atendimento no HMP diminuindo a superlotação. 
Ocorre que, meses depois, isso não aconteceu. Provavelmente porque a Administração colocou o PA São José para funcionar das 7h às 19h; com isso, nos demais horários, como o da noite e madrugada, o HMP continua com seu PA superlotado. 
Recentemente, durante reunião do Conselho Municipal de Saúde, o atual secretário de Saúde de Paulínia, Alexandre Camargo Brandt, disse que a decisão sobre o horário do PA São José foi uma decisão “técnica”. 

➡️ Quase 1.500 pessoas esperando na fila por cirurgia, e HMP com falta de anestesistas 

Até um vereador da base governista, o vereador José Soares, apresentou o Requerimento n.º 289/24 no Legislativo, cobrando à gestão Du Cazellato informações sobre a falta de profissionais anestesistas no HMP.  
Algo que, segundo o edil, tem por resultado a morosidade nos atendimentos, como: cirurgias eletivas, endoscopias e colonoscopias. 
Em resposta a outro requerimento n.º 1407/2023 do mesmo vereador, questionando o Executivo sobre quantos munícipes estão aguardando na fila de espera para a realização de procedimento cirúrgico; a Secretaria de Saúde informou que existe uma fila de 1.449 solicitações médicas.
➡️ Secretário que usa plano de saúde 
Em junho, durante reunião do Conselho Municipal de Saúde, o secretário de saúde de Paulínia, Alexandre de Camargo Brandit, chegou a reclamar que o TCE rejeita as contas da saúde de Paulínia, até devido a um “descascadinho na parede”.
O secretário chegou a dizer ainda que não dava para corrigir tudo da noite para o dia, em um passe de mágica, chegando a dizer que: “O TCE tem a interpretação de que a gente tem a varinha de condão, eu acho, pode ser, não sei”. Afirmou isso, mesmo a atual administração estando há cinco anos no poder. Lembrando que Brandit chegou a dizer, em outra reunião do Conselho de Saúde, que mora em Campinas e que utiliza plano de saúde. 
 
➡️ Falta de hemodiálise faz paulinenses buscar atendimento na região

Mesmo sendo a segunda cidade mais rica da RMC, Paulínia não oferece para sua população vagas para hemodiálise na sua rede pública de saúde. 
Com isso, diariamente, paulinenses que necessitam deste serviço precisam se deslocar para hospitais de cidades da região, como, por exemplo, a Unicamp ou o Hospital Estadual de Sumaré, para conseguir fazer o tratamento.

A hemodiálise é um tratamento que substitui as funções dos rins, realizando a filtragem do sangue para remover as substâncias tóxicas e o excesso de água do corpo. É um procedimento vital para pacientes com doença renal crônica, a fim de garantir a limpeza do sangue e a manutenção da saúde do paciente. 

➡️ HMP não possui UTI neonata 
O Hospital Municipal de Paulínia não possui UTI neonatal. Com isso, os bebês que precisam de atendimento acabam tendo que ser levados para hospitais da região, como Unicamp, Hospital Estadual de Sumaré ou Hospital Mário Gatti; via sistema de regulação de vagas. Em 2023, Paulínia registrou 7 óbitos de recém-nascidos. 
A UTI neonatal é um espaço reservado especialmente para o cuidado de bebês prematuros ou mesmo os que, apesar de terem nascido a termo (a partir de 37 semanas), necessitem ficar em observação após o nascimento. Os dados coletados pelo último censo realizado em 2022 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que Paulínia possui uma das mais altas taxas de mortalidade infantil da região. 
Para se ter uma ideia, Paulínia com 110 mil habitantes, teve 14,8 óbitos por mil nascidos vivos, enquanto a vizinha Sumaré, com 310 mil habitantes, teve 10,8. Segundo dados da Fundação Seade que puxam um pouco para baixo a taxa em relação ao IBGE, os números mostram que Paulínia teve um aumento expressivo de 2021 com uma taxa de 9,8 (12 óbitos infantis), para 2022 com 14,7 (20 óbitos infantis). O maior número de mortes foi registrado entre crianças de 0 a 6 dias de vida (óbito neonatal precoce), com 11 casos.

➡️ Faltam até testes rápidos de Covid-19

Em junho deste ano, uma grávida de oito meses, moradora do bairro Balneário Tropical, em Paulínia, que procurou atendimento no HMP, foi mandada para casa com suspeita de Covid sem fazer o teste rápido. 
Segundo a gestante, que preferiu não ser identificada, o médico que a atendeu disse que a suspeita era de que ela estava com Covid-19 e que ela seria encaminhada para realizar o teste rápido para a conclusão do diagnóstico. 
Ocorre que, na hora de fazer o teste, a gestante disse que foi informada por uma enfermeira de plantão que o teste rápido estava em falta no HMP. Com isso, a mulher explicou que acabou recebendo alta sem fazer o teste, levando uma receita para usar os remédios Loratadina e Paracetamol em casa.

➡️Aposentada, quase morreu após ser atendida no HMP e mandada para casa com ruptura do apêndice

Em fevereiro, a servidora pública aposentada, Maria Elvira Silva, 65 anos, passou apuros após procurar atendimento no Hospital Municipal de Paulínia e receber alta, mesmo com fortes dores. Mais tarde, descobriu-se que se tratava de uma ruptura do apêndice, que poderia ter causado uma inflamação generalizada, levando a óbito. Segundo ela, após ser medicada e fazer o exame, acabou recebendo alta — mesmo ainda sentindo muita dor. “A médica olhou o exame e disse serem apenas gases e disse que eu poderia ir para casa, mesmo eu com muitas dores”, conta. Ela depois teve que voltar ao HMP onde outro médico a atendeu e salvou sua vida.

Sem exames de imagem nos finais de semana ou somente em casos de vida ou morte

Vale destacar que o vereador Tiguila Paes fez um requerimento (n.º 775/19) em 2019, alertando para riscos à saúde dos pacientes, o fato do exame de ultrassonografia ser realizado apenas de segunda a sexta, até às 17h no HMP. Na época, a Prefeitura respondeu apenas que estava avaliando a situação.

Em junho deste ano, um dos nossos repórteres passou por atendimento no HMP e foi orientado por uma médica que ele teria que fazer uma tomografia do pescoço. Após esperar 4 horas, quando foi chamado lhe disseram que ele ira fazer um raio-x, quando nosso repórter questionou dizendo ser uma tomografia que a médica havia pedido, uma funcionária lhe disse que exames de imagens desse tipo somente em casos de vida ou morte poderiam ser realizados no HMP e que a médica havia se equivocado em fazer o pedido, pois ela era nova no Hospital.

➡️Secretário discute com conselheiro de saúde e diz que não faltam medicamentos em Paulínia

Em março, durante reunião do Conselho Municipal de Saúde, o secretário de Saúde de Paulínia, Alexandre Camargo Brandt, que outrora disse que mora em Campinas e possui convênio médico, discutiu com o conselheiro de saúde Antônio Castro e o impediu em determinado momento de fazer suas colocações sobre a saúde no município. De quebra, o secretário ainda disse não haver falta de medicamentos para a população.

➡️Secretário proíbe manifestação de conselheiro em grupos de WhatsApp

Em agosto, tivemos acesso a um print do grupo de WhatsApp dos conselheiros de saúde de Paulínia, onde Brandt acusa, sem apresentar provas, um conselheiro de propagar desinformação; em seguida Alexandre muda as configurações do grupo para que somente administradores possam publicar, censurando claramente a liberdade de expressão dos membros do Conselho.

O conselheiro, acusado por Brandt de produzir desinformação, disse à nossa reportagem que iria entrar com uma denúncia no Conselho de Ética do Conselho de Saúde contra o secretário e que iria fazer um boletim de ocorrência. Até porque fomos informados de que Brandt na posição de conselheiro, não tem o poder de bloquear ou proibir a manifestação de outro conselheiro; e se estiver fazendo isso no papel de secretário, pode ser considerado abuso de autoridade, ferindo a Lei n.º 13.869, de 5 de setembro de 2019.

➡️Cargo de confiança estaria usando veículo da saúde para uso pessoal
Em julho, o Ministério Público de Paulínia recebeu uma denúncia de que um cargo de confiança do prefeito Du Cazellato chamado Pedro Veiga, estaria usando um veículo oficial da Secretaria de Saúde para uso pessoal. A denúncia está em investigação no MP. Na época nossa reportagem entrou em contato com o senhor Pedro Veiga para ouvirmos sua versão, mas não tivemos retorno.

➡️Funcionários do HMP reclamam da quantidade e da qualidade da comida oferecida
Em março, funcionários do Hospital Municipal de Paulínia reclamaram da quantidade e da qualidade da comida oferecida na unidade de saúde. Segundo alguns servidores, os alimentos servidos são aparentemente de baixa qualidade e que a quantidade disponibilizada a cada refeição é racionada, prejudicando as necessidades nutricionais de cada pessoa.
O contrato da Prefeitura de Paulínia com a empresa responsável pelo serviço é de R$ 13.685.504,69. E prevê o fornecimento de comida e mão de obra para produção e distribuição de refeições para o HMP, Centro de Geriatria, CAPS e CTA, bem como prestação de serviços de lactário para o HMP. 

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MP recebeu denúncia por suposto privilégio a cargo de confiança que foi passar férias na Disney

Em maio, o Ministério Público (MP) de Paulínia recebeu uma denúncia pública contra o prefeito Du Cazellato, o secretário municipal de saúde Alexandre Camargo Brandt e a diretora de saúde Tania Romano; por suposto privilégio concedido a um cargo confiança alocada na Secretaria de Saúde, conhecida como Fabi Garcez. O Promotor Tiago do Amaral Barboza instaurou procedimento investigativo.

Segundo a denúncia, Fabiana Garcez foi relocada para a Central de Vagas da Saúde, com um salário dez vezes maior que os demais funcionários do setor. Ainda segundo o denunciante, a comissionada fica nas redes sociais em horário de trabalho defendendo a gestão do prefeito Du Cazellato; enquanto os demais funcionários trabalham.

O denunciante alegou ainda que essa comissionada com apenas 9 meses de trabalho, recebeu férias em foi para o Parque da Disney, nos EUA, ou seja, antes mesmo de completar 1 ano de trabalho; algo que o denunciante acusou de “privilégio”; pois segundo ele, para os funcionários deste setor tirarem férias, são exigidos no mínimo 1 ano de trabalho e planejamento com os gestores, para não prejudicar os trabalhos da Central. Segundo o denunciante, as férias teriam sido autorizadas pela diretora de saúde Tania Romano e pelo secretário de Saúde de Paulínia, Alexandre Camargo Brandit.

O denunciante relata também no documento enviado ao Ministério Público, que a comissionada no decorrer desses 9 meses de trabalho enquanto desenvolvia sua função chegou a colocar como morto um homem que aguardava ser chamado pela Central de Vagas para realizar um exame; algo que virou notícia nas mídias de toda a região, já que o homem está vivo. O caso segue no Ministério Público.

Na época, o diário procurou a Prefeitura de Paulínia para se posicionar sobre a instauração de procedimento investigativo do MP contra o prefeito, o secretário e a diretora, mas não tivemos retorno. Nossa reportagem também entrou em contato com a comissionada Fabi Garcez, mas também não teve retorno.